Ardósia desistiu do livro, pousou-o sob a dobra do jornal, e arriscou, antes, a escrita. Esgrimia ideias no ar mas ao pousar a caneta nada. E se lhe escrevesse uma carta? A razão gritava não mas o desejo resmungava talvez. Dedicar-lhe um poema? Escutara epopeias desesperadas de quem expôs sentimentos a estranhos mas nunca tivera boas-novas, de finais felizes. Convidá-lo a sentar, para um café?... A vida tinha sido curta demais para ser farta e não queria desperdiçar oportunidades, se bem que também se prospera com perdidas, apregoam anciães fora de tempo… Mas, fosse por onde desse, o dito senhor estava em mente e não presente.
Renunciou à escrita antes de a começar. A melancolia não dava para mais, sobrava para nada. Queria canalizar o sentimento no papel mas apenas se projectava na folha incólume. Ardósia, ao contrário do que desejava mostrar, era tábua rasa…
Ali continuou, reclinada e inerte, sem apoio de dobras de braços que a pequenez da mesa a isso reprimia. Contemplar o rodeio também era sol de pouca dura. Se alguém a si encaminhava, Ardósia pestanejava em câmara lenta, girava e encolhia a cabeça, entartarugando-se. Não passava de um grande muro de lamentos.